sábado, 31 de maio de 2014

Lucimara vai com Deus

Dei carona, ontem, na véspera do feriado da independência, a uma mulher, esbaforida, nervosa, assustada, no trevo de Conceição de Macabu.

O nome dela é Lucimara.

Ela ia a Campos, sem um real no bolso, cuidar da tia que não tem ninguém e está jazendo no hospital.

Ela tem duas filhas adolescentes, apesar de ter praticamente a minha idade. Não tem marido. Ajuda os pais.

Ela é do interior de Conceição, todos lá são muito pobres, muito carentes.

Ela disse ter medo dos...
 ...pais morrerem. Eu disse para não se preocupar, Deus tem o melhor para seus filhos. Ela fez um resumo do que os católicos, protestantes e espíritas dizem do pós-morte.

Aproveitei a deixa, e falei-lhe do que Jesus diz, e do seu amor que não permite que seus filhos sofram. Falei-lhe do inferno, que existe, mas que foi feito para o Diabo e para aqueles que aqui na terra se fazem diabos também.

Falei-lhe que nós, que amamos limitadamente, não conseguimos conceber um mal de tortura para as pessoas que se vão, porque Deus faria assim, se diminuindo em relação a nós?

Falei-lhe da Graça de Deus, do perdão de Jesus, da Cruz, que perdoou-nos de tudo, até do que ainda faremos. Ela aprendeu isso na igreja batista que frequentava quando criança, mas não conseguia perdoar-se.

Ela abortou quando tinha 15 anos, e se arrependeu muito. Tanto que não abortou quando aconteceu de novo, um ano depois.

Ela vive remoendo essa culpa, esse medo. Disse-lhe que Jesus veio exatamente para isso, para desmontar nossos medos e culpas, e quer que gastemos nossa energia não nessas neuroses, mas sim em atividades práticas do amor ao próximo.  Falei-lhe que ela está perdoada, que o seu pecado não é nada perante a Cruz. Pedi para que ela não se preocupe com isso, e se as lembranças de culpa voltassem, que ela se agarre à Cruz,  na certeza do amor de Deus, e deixe as lembranças serem só lembranças, que vão ficando cada vez mais fracas se nós não as alimentarmos com nossa culpa.

Lucimara adora ajudar os velhinhos do seu vilarejo. Eu lhe disse que, no final, Jesus separar-nos-á como um pastor separa cabritos e ovelhas, e dirá para ela: vinde bendita de meu Pai, porque tive fome, e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estava nu e me vestistes, doente e me ajudastes...

Disse que ela conhecerá até mesmo o filho dela que foi abortado, e que ele estará lá para lhe dar um belo abraço e todo o perdão do mundo.

Falei-lhe dos pastores e religiões que se dizem de Jesus mas que só estão interessadas no dízimo e em outras vantagens que possam tirar desses coitados. Ela diz ter muita dificuldade de ir a igreja por conta disso, ela percebe que isso tudo é falso, mas está sempre sozinha, sem forças, na sua percepção. Sua irmã contribui com o dízimo todo mês, embora seja incapaz de ajudar os pais. Falei para ela ir a igreja batista ou a presbiteriana que existem perto de sua casa; falei-lhe muitas coisas. Aprendi muito também.

Em tudo isso ela chorava muito.

Eu me segurei para não fazer a mesma coisa.

Tenho certeza que ontem foi seu dia de independência.

Vai Lucimara, vai com Deus, vai perdoada, e que a paz que Jesus nos oferece esteja em você. Se agarre a ela, se agarre a essa fé, a essa certeza.

Cuida dos seus velhinhos, cuida dos seus filhos, e viva a vida que Deus te deu, sem culpas, sem infernos terrestres, sem as dores que Cristo já carregou.

Vai minha irmã, e espero te dar um belo abraço quando te rever junto de nosso Pai.

Italva, 7 de setembro de 2012
Leo