quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Incógnito Divino



Parece absurdo,mas a mentalidade humana avançou praticamente nada acerca da
Revelação do Eterno,de modo que,ainda hoje,em pleno vapor do progresso científico –
tecnológico do século XXI,esta questão milenar existencial receba considerações turvas,
inconsistentes e baratas.Coisas clássicas,do tipo “Deus é o Criador Todo-Poderoso do U
niverso,é Senhor,é Pai Celeste,é Divino Arquiteto”,apesar de simplista,perduram concei
tualmente na pós-modernidade histórica como supra-sumo das declarações feitas no pas
sado remoto da civilização.Outras,no entanto,geradas no diapasão folclórico da tradição
cultural popular vertem a ideologia fatalista do qual Deus é um ser totalmente misterio
so,enigmático,simbólico,emblemático,alienado,desconhecido,distante,ou,até mesmo, co
mo a grande energia mística que rege o cosmo.

Todavia,a priore,definir Deus conforme a imensidão de Sua grandeza só pode ser
algo semelhante à “incognoscibilidade do inexistente”.Pois,além de estupidez intelectu
al,ofensa ilógica contra a percepção da razão,evidencia,claramente,também,a insensatez
de quem julga tratar com Deus comparando-o a um experimento observável - tangível –
prescrutável,o que,via de regra,é impossível,para não dizer,irracional,bestial...
Talvez,por isto,Ed René Kivitz tangencia a crença “nas múltiplas expressões da re
velação de Deus aos homens”,quando afirma acreditar “que todos os sinais(que revelam
Deus aos homens) devem ser decodificados na interioridade da experiência de cada pes
soa e assim seja uma realidade experimentada e vivenciada, não apenas um objeto de es
tudo”.
João,por exemplo,aquele que foi um dos doze discípulos de Jesus , apelidado de
“apóstolo do amor”, quando por ocasião do confronto da revelação apocalíptica atinente
a afirmação do Trono , mostrou-se coerentemente incapaz de transmitir plausivelmente
qualquer coisa concreta que pudesse clarear o intelecto quanto quem,de fato,é Deus.Vis
to que ali,no cerne do texto de Apocalipse 4,não há elucubrações intuitivas,não há expli
cações argumentativas,não há divagações enfadonhas ,não há nenhum sub-requitício de
talhado,não há sistematizações de informações que traduzam para o aqui e agora algum
conceito da deidade.Tudo quanto ele consegue ver e descrever é “Alguém” sentado. E,
nesse caso,pra Deus, somente o uso de um pronome pessoal indefinido é mais que sufi
ciente para qualificá-lo na “categoria superior de divindade”,fechando,desse modo,todo
o leque de debates,fóruns e conjecturas.Aliás,esse é o modo divino de dizer que o que se
fala sobre Deus não é tudo,mas que tudo que se pode conhecer dele é o bastante.
Assim,desmistifica-se a tese filosófica acerca de Deus como um ser infundado ou poético,mitologicamente falando,por mais bonito que isso pareça ser.Nem tampouco diz respeito ao agnosticismo inventado em 1869 pelo naturalista inglês Tomás Henry Hux
ley,atrelando-o a negação da possibilidade de se conhecer Deus como Deus,lançando o
homem ao abismo do vazio de significado essencial,sem perspectivas futuras e entregue
a cega sorte do destino cético.Ademais,com muita propriedade,não tem nada haver com
o movimento racionalista que Lor Herbert of Sherbury ( 1583-1648 ) inaugurou e que
varreu a Inglaterra pelos idos dos séculos XVII e XVIII com a facínora ideologização de
ísta da não intervenção divina na ordem natural dos fatos. Muito menos ,não conecta-se ao pensamento panteísta de John Toland ( 1670-1722 ),inglês que abrogava a pessoalida
de do PAI ao bafejar uma das mais exdrúxulas formulações que já ouvi:Deus é tudo e tudo é Deus.E assim,equivocadamente,confundia com a intolerância blasonada de sem
pre,Criador com criatura e criatura com Criador.
Portanto , diferente da visão ofuscada dos doutores da sapiência rasa , constata-se
em Jesus o único Deus Verdadeiro,que não é a criação ,é o Criador.Não é uma fábula , é real.Não é uma energia,é uma pessoa viva.Não é cósmico,é divino.Não está distante,está
“Emanuel-conosco”.Não depende de nada ou ninguém,é Auto-Existente.Não é horizon
tal,é Transcendental.Não é fechado,é aberto.Não é fatalista,como os antigos filósofos es
toicos gregos de Atenas,é Regente da Criação e Senhor Absoluto da História.Não é a
lheio ao sofrimento humano,é Todo-Compaixão-Complacente.Não é mero espectador dos acontecimentos,é ,no entanto,sim,aquele que provê as grandes intervenções no mun
do e em nosso próprio ser.
Em síntese,Ele é aquele perante cuja face desaparecem as definições , invalidam-
se as metodologias teológicas,surtam delirantes as equações matemáticas de saberes,per
dem o significado as crenças e suas manifestações histórico-culturais e desconfiguram-se por completo todas as articulações elucidativas das respostas prontas.
No mais,é só ‘doxologizar’ paulinamente :
Ó profundidade da riqueza ,tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos,e quão inescrutáveis os seus caminhos!
Pois,quem conheceu a mente do Senhor?Quem se tornou seu conselheiro?
Quem primeiro lhe deu alguma coisa,para que Ele lhe recompense?
Portanto dele,por Ele e para Ele são todas as coisas.A Ele,pois,a glória eternamen
te!Amém.
Marcelos Louzada.