quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Visões Raras
Quando Deus fez a convocação à Isaías,no ano da morte do Rei Uzias,cerca de oito séculos a.c.,para o exercício profético em Israel,um fenômeno sobrenatural aconteceu marcando-o profundamente desde então e para todo o sempre.
Desta experiência,única e pessoal,ninguém esta autorizado a criar fórmulas pitorescas do modo pelo qual deva de se dar o encontro de Deus com quem quer que seja.E , por incrível que pareça,até alguns teólogos defendem tal coisa.
Todavia,dentre tantas situações arroladas e descritas pela própria vítima do incidente,três são de fisionomia extremamente chocantes.
Primeiro,em função da revelação que Deus fez de si mesmo ao profeta como alguém que estava “assentado sobre um alto e sublime trono” e com “as abas de suas vestes enchendo o fabuloso Templo cósmico-divino”,pois,somente após a percepção dessa visão mística do Eterno é que,definitivamente,surgiriam outras visões como respostas na vida de Isaías como gente.Ou seja,”eu vi o Senhor”,é muito mais que uma simples declaração de/em fé.É uma consciência,é uma essência,é uma ruptura psicológica radical frente aos elementos condicionantes e limitadores de um viver pleno,é uma crise existencial saudável,é uma verdade incapaz de ser desprezada ou esquecida pela mente.Ou,resumindo,é ser buscado e achado por Ele no Dia chamado Hoje.
Em segundo lugar,ao dizer “ai de mim,estou perdido”,Isaías admite estar enxergando não só o “Senhor”,mas,também,a si mesmo.E a maneira como ele,agora,se percebe,é aterradora:desorbitado,
sem referencial,perdido.Totalmente caído.
A lição que fica é a de que se Deus não se mostrar,não se manifestar,não se desocultar,na interioridade do coração,por mais noção que se tenha Dele vindas das tradições religiosas e culturais,da Escritura como livro ou da Criação como natureza,o homem como tal jamais se auto discernirá com franqueza,portanto,por si só,não há a mínima chance de salvar-se da condição de sua própria natureza
auto-destrutiva.Isso explica a impotência absoluta da religião sobre a vida das pessoas,sectarizando-as,moralizando-as,alienando-as,ideologizando-as,matando-as,sem conferir-lhes,nem por um minuto se
quer,o privilégio de experimentarem da liberdade,pacificação e gozo na alma,advindos de uma relação viva com Deus.É só perguntar à qualquer religioso e se saberá disso...
Entretanto,o horizonte é finalmente percebido mesmo sob a ótica de haver “um povo” de lábios impuros.Essa,na melhor das hipóteses,foi a leitura que Isaías teve daquele contexto histórico específico.
Isto posto,imediatamente,Deus o perdoa e o torna naquele porta-voz que mais falou acerca de Jesus Messias ou Jesus Cristo.
Assim,ao meu ver,aqui esta a trilogia básica capaz de estruturar e transformar,significativamente falando, qualquer mortal em uma nova criatura.
Logo,não adianta muita coisa saber certas verdades teóricas sobre Deus,sobre si e sobre o outro,se faltar esse olhar contemplativo e iluminado que aponte com firmeza para Aquele que está no Trono.Porque,a ausência desse vislumbre prospectivo torná-se-a na ausência da capacidade interpretativa íntima e das perspectivas circunstanciais do meio no qual se está inserido.
Oxalá,o povo que afirma ser o do Senhor seja igualmente aquele que possua essas visões tão raras na prática do dia-a-dia em que vivemos.
Marcelos Louzada.